Os jornais de hoje davam todas as informações sobre o discurso da posse do presidente negro dos Estados Unidos: as primeiras decisões tomadas e as cerimônias que participaram, quebrando protocolos. Mas não foi proferida pelo novo presidente a frase que me chamou atenção e sim pelo ator Jamie Foxx: “Você pode dizer que aquele era um presidente negro pela forma com que balançava.” A frase martelou minha cabeça durante todo o dia. Jamie delega à raça negra saber balançar os quadris! Ë isso o que ele diz e é isso o que me chamou atenção, pois que remete a questão genética/cultural. Será que todos os negros balançam os quadris? Será que nenhum branco sabe balançar os quadris? Será que nascemos sabendo balançar os quadris ou aprendemos a fazê-lo no seio de nossas famílias e grupos a que pertencemos? Se aprendemos, um branco pode aprender a balançar os quadris tão bem quanto um negro que fora criado num meio em que as pessoas fazem da dança uma rotina, desde que dance também todo dia. Da mesma forma, costumamos ouvir que está no sangue quando um jogador de futebol é bom. Esquecemos que muitos desses jogadores foram criados em meios desfavorecidos onde a única diversão era um pedaço de terra e uma bola de meia. Tá, já sei o que vão dizer...se fosse assim todo menino que joga futebol seria um profissional. É verdade, não é só isso que conta. O que estou dizendo é que o peso do ambiente, da cultura é muito grande, mas não é determinante. Para que o menino se torne um jogador profissional, outros fatores entram em jogo. Alguns dependem dele e outros não. Depende dele a forma como ele interage com os obstáculos que enfrenta e o quanto ele está determinado a investir para alcançar seu objetivo, mas também depende do fator sorte, oportunidade. Nem todos aqueles que jogam bola bem estão num time de futebol. Assim como nem todos que estão num time de futebol jogam bola bem. Mas voltando ao assunto cultura/genética, não que eu negue nossas raízes genéticas, mas vejo que, de modo geral as pessoas subestimam a questão cultural. Há vários provérbios que expressam esse pensamento: “Filho de peixe, peixinho é.” ou “Pau que nasce torto, morre torto.”. Precisamos investir na mudança, precisamos acreditar na força da educação. Somos muito mais aquilo que aprendemos do que aquilo que somos ao nascer. Trazemos uma herança genética, claro, e há muitas pesquisas em andamento sobre isso para eu arriscar um percentual. No entanto, percebo o quanto se pode mudar quando temos a oportunidade de sermos sensibilizados por outras linguagens, seja da música, da literatura, do teatro, das artes plásticas de nossa cultura ou de outras. Sensibilizamo-nos com uma música clássica, mas também com uma música contemporânea. A sensibilidade sim é uma herança biológica, mas àquilo que nos tornamos, como somos, como pensamos, como vemos o mundo tem um peso enorme da cultura a que pertencemos. No entanto, a declaração do ator é feliz porque traz à tona, independente desta discussão, as tradições de cada cultura. Diferentemente da cultura européia, notadamente da corte francesa, herdada pelos americanos, onde os homens e as mulheres seguiam protocolos rígidos de conduta, incluindo aí os modos de falar, se comportar e de se vestir, Obama e sua família trazem para os Estados Unidos a mistura de diferentes culturas, culturas essas diferentes da européia. Trazem para a Casa Branca a cultura das minorias, a cultura tida como inferior por anos a fio e que infelizmente ainda é vista desta forma por muitos, mas que de agora em diante tende a ser revista. Não existe cultura melhor ou pior. Existem culturas diferentes. Diferentes formas de ver e olhar o mundo, a vida. É preciso que os povos do ocidente percebam que têm muito o que aprender com os povos das outras culturas. Podem os brancos balançarem seus quadris como Obama!
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