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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Professora, Mestre em Educação, Psicopedagoga, Especialista em Avaliação Educacional. Atualmente, ministra palestras sobre LEITURA E INTELIGÊNCIA, também escreve material de língua portuguesa EAD para o CCAA e para a EDUCOPÉDIA.

domingo, 25 de janeiro de 2009

NEM NEGRO NEM BRANCO: MULTIRACIAL


No texto “O Balanço de Obama” o que está em discussão é a questão de nossa herança genética e cultural e a importância de se legitimar a cultura de grupos minoritários. Fui provocada pela frase de Jamie Foxx: “Você pode dizer que aquele era um presidente negro pela forma com que balançava.” Agora, minha amiga Fátima me provoca, me desequilibra, de um jeitinho que só ela sabe fazer. Diz ela, comentando meu texto:..."adoro as temáticas culturais e, mais ainda, quando reconhecemos que não há mais culturas puras." Ela está certa, certíssima! Por que insistimos em falar em negros e brancos? Indígenas e brancos? Pardos e brancos? O que queremos dizer? No questionário do IBGE temos que dizer qual a nossa raça: branca, preta, amarela, parda ou indígena. Nesta ordem. Porque insistimos em classificar as pessoas pela cor/raça? Uma vez li que negro é todo aquele que tem descendência africana. Assim, temos pardos que são negros e pretos que são negros. Da mesma forma temos pardos não negros, pois descendem de índios. Bem, onde quero chegar? Quero levantar uma reflexão sobre a importância da raça na constituição da identidade. Meus pais casaram-se jovens. Meu pai, filho de um português e de uma filha de alemães, foi criado pela irmã mais velha, pois, minha avó ficara viúva e precisava trabalhar para sustentar os filhos, todos brancos, traços europeus, mas longe de terem recebido a educação acadêmica, clássica, cresceram num subúrbio pobre, estudando quando muito até a quarta série primária, começando a trabalhar cedo para ajudar no sustento da família. No entanto, descendentes de europeus, herdaram modos de agir da cultura europeia ( sem acento pelo N.A.O.). Não falo da educação escolar nem das regras de etiqueta. Falo mesmo dos modos de agir e pensar que são passados para nós desde pequenininhos. Tantas coisas que aprendemos que não damos conta... aprendemos a comer de uma determinada maneira ou pelo menos aprendemos como sentar a mesa, como usar os talheres. Aprendemos que não devemos falar alto, aprendemos que devemos esperar a vez de falar. Aprendemos a narrar um fato com lógica, com início, meio e fim, aprendemos a ler em silêncio, etc. Minha mãe, filha de um filho de alemão com uma negra, foi criada no Centro de Belo Horizonte. A família de minha mãe era pobre, no entanto, tradicional. Preocupada com os bons modos, a boa educação, com os modos de vestir, o modo de falar, a tradicional família mineira estava sempre impecável ao sair à rua, preocupada com a moral e os bons costumes. A essa altura estarão se perguntando o que tem minha família com a raça e a identidade. Já explico. É bem simples. É que não consigo identificar hábitos da cultura negra na família de minha mãe, e só hoje depois de muito estudo, consigo perceber hábitos europeus na família de meu pai. Desta forma, quem sou eu? No questionário do IBGE teria que marcar que sou parda, pois nem sou branca, nem preta. Mas, segundo o texto que li, sou negra, pois descendo de africanos. Mas o que isso me diz? O que isso me fala de minha identidade? Sou brasileira! Não interessa se branca, preta, parda, amarela, ... A raça ou cor é irrelevante. Ou pelo menos se torna cada vez mais irrelevante na medida em que as raças puras estão acabando e, consequentemente, as culturas. Cada vez mais o nosso povo é resultado de uma miscigenação. Imagina então Obama com parentes nos cinco continentes! Por que sobressai nele a negritude?. É filho de mãe branca e pai negro. É tão negro quanto branco em suas raízes, na sua cultura... Mas vemos apenas a cor, e pela cor, julgamos e inferimos a cultura a que a pessoa pertence, transformando isso num instrumento de perpetuação do poder, de superioridade. Tolos aqueles que pensam serem superiores só porque pertencem a uma ou outra raça/cultura. Após o advento da Revolução Francesa somos todos iguais perante a lei. Só precisamos fazer valer. Obama fez!!! Dessa forma, interessa saber, conhecer nossas raízes sim, como viviam os negros, os índios e os europeus que vieram para cá, para fortalecermos a nossa identidade e não para dividir.

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