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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Professora, Mestre em Educação, Psicopedagoga, Especialista em Avaliação Educacional. Atualmente, ministra palestras sobre LEITURA E INTELIGÊNCIA, também escreve material de língua portuguesa EAD para o CCAA e para a EDUCOPÉDIA.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

De novo o pensamento e umas coisitas mais



A sensação da folha em branco para um escritor é a mesma de uma tela em branco para um pintor. Digo isso porque já experimentei as duas.

A angústia da tela em branco toma conta do meu serr enquanto em minha mente dançam imagens, cores, cenas. Mas como representá-las? Como dar conta de pintar aquilo que tão subliminarmente dança em minha mente?

Não tive formação em arte nem sei desenhar, por isso, só consigo pintar o que está a minha frente. Seja uma fotografia, uma paisagem ou ainda outra pintura. Gostaria de, como “pintora”, poder dar vida àas cenas que vejoimagino e que me parecem tão reais em minha mente. Mas parece uma tarefa impossível, inatingível. Limito-me a então, a brincar com as cores. Cores, deliciosas cores. Azuis, amarelos, vermelhos, verdes,... uma infinidade de tons. Mesmo assim, é um grande desafio pintar a natureza. São tantos detalhes, tantas tonalidades, luz e sombra...

A angústia do papel em branco é a mesma. Já não dançam em minha mente só as imagens... dançam passagens que gostaria de registrar... mas o pensamento é igual à uma criança quando resolve brincar de se esconder. Lembro-me de meu filho caçula...

Quando era pequeno, bem pequenino, com dois ou três anos... Adorava “brincar” de se esconder. Escrevo brincar entre parênteses porque a brincadeira era uma tortura para mim. Não pela atividade em si, mas pelos lugares que ele escolhia para brincar. Iniciava como uma brincadeira ingênua, que parecia só uma pequena insinuação. Eu sorria, dizia “vem cá”. Ele sumia e reaparecia. No fim, eu me sentia dentro de um filme de terror.

Lembro-me de um episódio que até hoje me deixa angustiada quando me vem à lembrança. Estávamos numa feirinha, no estacionamento de um grande supermercado. Essas feirinhas de roupas. Havia muitas ararasgôndolas com cabides nos quais penduravam os vestidos. Lembro-me que havia uma carreira imensa de ararasgôndolas coloridas. Ele, muito pequeno, sem que eu percebesse, passou para o outro lado da araragôndola. Quando procurei-oo procurei, chamei por ele. Ele, não sem antes esperar alguns segundos que me pareceram uma eternidade, mostrou seu rostinho. Risonho e com cara de “me pega”, sem que eu pudesse pronunciar outra palavra, sumiu novamente... e foi assim pelos minutos mais longos de minha vida. Eu chamava-o e andava a passos largos, meio abaixada, procurando, em meio às roupas, aquele toquinho de gente. Quando pensava tê-lo pego ele sumia novamente.

Esse ir e vir, essa possibilidade de pegar e logo após a impossibilidade, o desaparecimento, me enlouquecia... e ele, tão pequeno, sabia disso e se divertia. Corria e ria. E de tanto que ria, sua corrida era instável, parecia que ia cair a todo instante. Quando finalmente pegava-o, não sabia se brigava com ele ou se o abraçava...

Assim é o pensamento, sorrateiro, brejeiro, quando penso que o possuo, ele se dissipa, escapa-me... parece,, assim como a criança, se divertir com a nossa incapacidade de pegá-lo. Felizes aqueles que aprisionam o pensamento e o congelam. Numa tela, num livro, numa falanum papel,na internet... mais felizes ainda aqueles que conseguem, ao possuir o pensamento, não aprisioná-lo, mas dar uma forma a ele: uma poesia, uma prosa, uma pintura – uma obra de arte! Obras de arte são como pensamento... não se consegue aprisioná-las. Parecem, assim como a criança e o pensamento, se divertir com a nossa incapacidade de abstrair e explicar toda a emoção que demandam.apresentá-lo de outra forma.

Ah! Emoção. Pensamento, criança e obra de arte estão intimamente ligadas a emoção. Não há como falar de um sem falar de outro. Vejam a obra de arte! Ela só existe porque seu criador se apaixonou por ela. Ninguém que não esteja apaixonado por sua criação dá a luz a uma obra de arte.

Uma obra de arte exige dedicação, empenho, abdicação, obstinação, e essas coisas não existem sem emoção. A criança, por outro lado, é pura emoção. Para deixar de ser criança ela precisa justamente aprender a controlar suas emoções, a abrir mão de sua individualidade em prol do social.

Pergunto-me se os artistas e as crianças não têm algo em comum... Já o pensamento, faz um esforço enorme para ser racional. Sejamos honestos. Desde sempre o homem tentou entender o mundo a sua volta – pensando sobre ele. Mas hoje sabemos o quanto o homem se engana com seus pensamentos! Porque por mais racional que o homem seja, primeiro ele é emoção.

A angústia da folha em branco, da tela em branco, já experimentada por quem escreve ou pinta, é pertinente, acho que no fundo sabemos de nossa impotência, de nossa ignorância sobre nós mesmos e o mundo. Sim, porque ninguém, pinta ou escreve aquilo que sabe. Pintamos e escrevemos aquilo que não sabemos... na tentativa de pintando, escrevendo, entender... audaciosos, nós homens.

11/07/2008.