Perfil
- Leila de C. Mendes
- Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
- Professora, Mestre em Educação, Psicopedagoga, Especialista em Avaliação Educacional. Atualmente, ministra palestras sobre LEITURA E INTELIGÊNCIA, também escreve material de língua portuguesa EAD para o CCAA e para a EDUCOPÉDIA.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Novo Acordo Ortográfico e os pelos do coelho
Quando se fala do Novo Acordo Ortográfico são inevitáveis as perguntas: erro ou acerto? Necessário ou apenas um capricho? Será que querem nos enlouquecer?
Meus queridos alunos, Aparecida, Paloma e William e outras pessoas me fizeram estas perguntas. Alguns se mostraram mais receptivos ao Acordo, outros mais resistentes... me parece que esse é mesmo o movimento do ser humano. Resistir ou se adaptar.
No primeiro momento, frente a novas aprendizagens, ficamos completamente desequilibrados. Perdemos nosso chão, nosso porto seguro. Depois, o que vem depois? Vai depender... vai depender do quê? Vai depender do quanto você quer subir nos pelos do coelho, ou seja, vai depender do quanto você quer se arriscar, do quanto você quer se aventurar.
O ser humano é naturalmente curioso e também o animal com a maior capacidade de adaptação. Sim, e... o que uma coisa tem a ver com a outra? Para se adaptar o ser humano precisa assimilar o novo, ao assimilar o novo, modifica o meio, mas complementarmente se modifica. Esse é um conceito que Piaget toma emprestado da biologia para explicar nossas aprendizagens.
Ele dá um exemplo de um coelho comendo uma couve, que eu adapto para o de uma mulher comendo um biscoito de chocolate. Para comermos um biscoito de chocolate, precisamos modificá-lo. Vamos mastigá-lo até que ele deixe de ser um biscoito para se transformar em algo digerível. Enfim! Assimilamos o biscoito. Ele foi completamente modificado, pois que, além de triturado , recebeu enzimas e ácidos necessários para uma digestão. No entanto, imediatamente após este processo, ele nos modificou. Já não somos mais a mesma pessoa. Recebemos carboidratos, vitaminas, e calorias que vão contribuir para o aumento de peso, triglicerídios, etc.
Então o que acontece com o ser humano? Acontece o que Gaarder explica maravilhosamente bem: ao envelhecermos, vamos perdendo a capacidade de nos aventurar em coisas novas, vamos ficando no fundo da pelagem do coelho, vamos ficando acomodados, querendo só modificar o mundo para atender aos nossos desejos e acabamos diminuindo nossa capacidade de assimilação, ou seja, nossa capacidade de nos modificarmos, de aprender.
Alguém já teve a curiosidade de ler algum desses livros que ensinam a como não deixar sua mente envelhecer, ou a como manter sua memória viva? Uma rápida incursão por eles e o que se vai ver é justamente uma lista de atividades que possibilitam novas aprendizagens. Alguns sugerem que você altere o lugar daqueles objetos que estão sempre nos mesmo lugares, como por exemplo, seu relógio, u o seu rádio de cabeceira. A sugestão é simples: trocar todas as coisas da casa de lugar de tempos em tempos. Não, não é para enlouquecer... é justamente para manter o cérebro trabalhando. A pessoa ficará desequilibrada ao procurar uma coisa x , que estava no lugar y e será obrigada a pensar qual foi o novo lugar escolhido. Isso parece uma coisa simples, mas para pessoas em idade um pouco mais avançada é um verdadeiro tormento. Quem lida com idosos sabe do que eu falo. A maioria quer tudo a mão para não dar trabalho...não querem mudar sua rotina, não querem que nada seja difícil, não querem perder tempo...como se o tempo fosse escasso.
E o que tem a ver essa história toda com o Novo Acordo Ortográfico? Tudo! Independente de certo ou errado, o Novo Acordo está possibilitando, para boa parte da sociedade, uma nova aprendizagem. Isto para nós professores é muito saudável apesar de todos os transtornos que causa. Estamos tão desequilibrados quanto nossos alunos frente às aulas que proferimos. Podemos sentir novamente o que os alunos sentem, e sentindo como alunos, podemos contribuir mais para as aprendizagens deles.
Mas tudo é uma questão de escolha. Podemos postergar esta aprendizagem até 2012 e até lá, rastejar pelo fundo da pelagem do coelho, ou podemos nos lançar a mais esta aprendizagem, subindo, mesmo com dificuldade, até as pontas dos pelos, e nas pontas da pelagem disponibilizarmo-nos inteiro para outras aventuras.
Leila Mendes
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Leila
ResponderExcluirDar parabéns pelo que você escreve parece mais uma rotina na minha vida, será que terei de mudar isso para não envelhecer minha mente?(rs)
Claro que não, é muito bom ver o desabrochar de uma escritora. Sou privilegiada, já vi a artesã, a pintora, a pesquisadora e agora a escritora. Todas essas faces são de incrível força e talento.
Amiga, boa sorte. Espero poder contar com sua parceria não só na vida profissional, mas , principalmente, na nossa amizade.
Sucesso!
Namastê,
Terezinha