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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Professora, Mestre em Educação, Psicopedagoga, Especialista em Avaliação Educacional. Atualmente, ministra palestras sobre LEITURA E INTELIGÊNCIA, também escreve material de língua portuguesa EAD para o CCAA e para a EDUCOPÉDIA.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

DUDU LIMA


Esse texto foi escrito em agosto de 2008. Lembrei-me dele quando li o artigo do Mário na REVISTA DINÂMICA. Os dois tratam da imagem. Confira:

Acabei de conversar longamente com meu filho. Conversamos sobre os últimos acontecimentos, sobre os passeios que ele e a namorada fizeram e os que vão fazer... Também conversamos sobre os negócios e a família. Ele parecia abatido, apesar da iluminação não ser boa e sua voz ser animada. Talvez seja coisa de mãe... ou da leitura que fiz da imagem.... já explico.
É que meu filho, um deles, está a quilômetros de distância. Na Europa. Conversamos através do SKYPE, um programa de computador que permite que a gente fale com outra pessoa através de um microfone e de uma câmera acoplada no computador que captura as imagens, permitindo que você veja a pessoa que está do outro lado. Assim, pude vê-lo, conversar com ele, quase tocá-lo. Sim, porque ele estava ali, na minha frente. Conversamos, sua voz estava animada, parecia um pouco mais magro, é verdade, mas era ele e VI, com esses olhos que a terra há de comer! ... que estava bem. Mas o que vi, na verdade, foi a imagem dele e não ele. A esta altura você já deve estar se perguntando se a imagem dele não é ele. Sim e não. Se me mostram um filme ou uma foto do meu filho, reconheço-o e afirmo que é o meu filho. Por outro lado, uma imagem é sempre a cópia, um simulacro. Não é real.
Num bar, um casal pede a moça sentada à frente, que lhes tire uma foto, a que ela responde positivamente com um leve movimento com a cabeça. A mulher abraça o homem, se mexe na cadeira, arruma o cabelo, prepara um sorriso e acena como se consentindo a foto. A moça tira a foto, devolve a máquina. A mulher pega a máquina e vai conferir no display como ficou na foto. Olha atentamente e solicita que a moça tire outra foto, estendendo a máquina. Abraça o homem novamente, se mexe na cadeira, arruma o cabelo e o sorriso e... pronto. Mais uma foto! A moça devolve a máquina e a mulher confere sua imagem no display.... torce o nariz, e já sem graça mas não abrindo mão de ter uma foto condizente com a imagem que faz dela, pede, mais uma vez que a moça bata uma foto, ao que ela avisa: é a última. A mulher repete todo o ensaio e agradecendo, sem graça, pega a máquina, desliga e guarda-a.
Num palco, Dudu Lima se apresenta com o seu trio. Ele, ora no contra-baixo, violoncelo ou guitarra, outro na percussão e outro no teclado. Os três são excelentes. Mas o que faz Dudu Lima ser diferente? Ele abstém-se da possibilidade do olhar. No momento em que toca permanece de olhos fechados, cerrados. Cerrados mas vê-se seu globo ocular encoberto pelas pálpebras. Dudu Lima não encolhe os olhos, fecha-os e entrega-se a música. Ele e o instrumento fundem-se num só elemento, numa só imagem. Dudu Lima não está preocupado com a imagem que fazem dele. Assistir a uma apresentação de Dudu Lima é mais do que vê-lo e ouvir o som que tira dos instrumentos. Dudu Lima é pura emoção, energia e sintonia. Dudu Lima não precisa dos olhos para tocar. Toca com o coração. Ele é pura melodia. E não há foto que corresponda a sua imagem!
Toda essa tecnologia da imagem teve início no início do século XX. De lá para cá os avanços tecnológicos foram muito grandes. Naquela época, as pessoas guardavam na mémória as imagens do real, do palpável, daquilo que podiam captar com os seus olhos e a partir do conhecimento de mundo que construíam. Hoje, confundimos as imagens reais com as imagens da TV, dos games, das revistas, dos out doors. Tomamos-as como verdadeiras, esquecendo que as imagens, dependendo do ângulo de tomada, podem induzir a uma determinada visão de mundo, além disso, uma imagem pode ser, quando não alterada, construída. E aí, nessa confusão entre real e imagem, somos levados a construir uma imagem de um mundo perfeito, onde almeja-se corpos reais pperfeitos, sarados, magros, sem barrigas, com bundas durinhas e empinadas, peitos apontando para frente, de preferência levemente apontados para cima. Queremos uma imagem virtual (foto) que corresponda a imagem que temos da gente. E aí, caímos em outro problema. A imagem que temos da gente, na maioria das vezes não corresponde ao real e muito menos a imagem estática. Nossa! Uma confusão de imagens! Já explico: Eu, por exemplo, quando penso em mim, não penso no meu corpo que ora ou outra já dá sinais de cansaço. Penso em mim cheia de energia, disposição, bem comigo mesmo. Não penso em meu nariz ou minha boca. Penso que sou bem aceita, tenho amigos e sou amiga. Tudo vai bem até que alguém resolve tirar uma foto. Se saio bem na foto, tudo bem! Caso contrário, deleta, deleta e deleta. Como posso permitir uma foto que não condiz com a minha pessoa? Ela me mostra o quanto falta para que meu rosto seja simétrico, o quanto minha pele dá sinais de flacidez e minhas terríveis bolsas nos olhos parecem saltar como nunca! Eu não as sinto! Mas elas insistem em se apresentar nas fotos e quiçá, pessoalmente também! Mas eu não as vejo! Graças aos céus!
A foto nos mostra, muitas vezes, ângulos que ignoramos, que não queremos ver... ou que queremos, apenas não correspondem ao real! Não somos uma imagem, somos seres humanos, de movimento e uma máquina não captura nossa essência, nossa alma. Mas, por outro lado, a imagem que temos da gente nem sempre corresponde ao real. Mas de que real estamos falando? Isso já é outra história

Um comentário:

  1. Acabei de descobrir o motivo das minhas fotos nunca saírem com a imagem satisfatória (risos).
    Não tem problema, o mais importante é como eu me sinto. Se eu amo a pessoa que sou, apesar da idade e dos defeitos físicos, estou bem mais perto de ser uma pessoa feliz do que aqueles que pelas convenções parecem perfeitos e que na verdade nunca estão satisfeitos consigo mesmos. Falta-lhes a valorização do que realmente importa e aceitação do que não se pode mudar. Beijos, Rosi

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