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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Professora, Mestre em Educação, Psicopedagoga, Especialista em Avaliação Educacional. Atualmente, ministra palestras sobre LEITURA E INTELIGÊNCIA, também escreve material de língua portuguesa EAD para o CCAA e para a EDUCOPÉDIA.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

ALUNOS SEGREGADOS


Muito pertinente a reportagem da NOVA ESCOLA sobre a classificação dos alunos em turmas por hierarquia, ou seja, classificam os alunos pelo seu desempenho. Há muito eu achava que esse critério havia acabado, mas qual não foi minha surpresa ao visitar algumas escolas no ano passado e descobrir que o critério ainda é muito utilizado. Desde turmas de 1º. Ano até as turmas de 3º.ano do Ensino Médio.




O que na verdade causa espanto é o fato de que essas escolas proclamam-se sócio-interacionistas ou construtivistas. Embora nem Piaget nem Vygotsky tenham elaborado uma pedagogia, e a teoria deles resulte em diferentes práticas, não haveria como justificar a classificação das turmas a partir de nenhum dos dois teóricos.



O primeiro aspecto negativo de tal prática seria a estigmatização a que os alunos de pior desempenho estariam submetidos. Além de estarem sujeitos à discriminação dentro da própria escola. Não gente, não é invenção da minha cabeça. Muitos alunos ainda são discriminados pelo seu baixo desempenho não só pelos outros alunos, mas pasmem, principalmente pelos professores.



É claro que como professora, adoro encontrar num aluno os mesmos gostos que o meu: gostar de ler, estudar, apreciar bons modos. Mas e aqueles que não gostam das mesmas coisas que eu? Preciso entender que provavelmente a maioria não teve a oportunidade de sequer se aproximar dessa cultura. Assim, gostar de ler, é uma oportunidade que se tem ou não. Quem não é apresentado a bons livros, quem não tem a oportunidade de ser apresentado a um texto que o instigue e que responda as suas questões pessoais ou mesmo lhe dê prazer, acaba não gostando de ler. Como gostar de música clássica se nunca se teve a chance de escutá-la para poder diferenciar os diferentes estilos? Como apreciar uma obra de arte se não se teve o tempo necessário e a orientação de alguém para simplesmente sentar-se à frente a natureza e observar as cores, o balançar das árvores, as sombras? É necessário educar o olhar, o gosto, a audição, a sensibilidade. Não uma educação imposta, mas uma educação que amplie o horizonte particular e propicie e respeite, então, a escolha de cada um. Assim, tenho o direito de excluir e segregar aqueles que não conseguem um bom desempenho? Será que um aluno tira nota baixa porque gosta? Será que não gostamos de aprender? De escutar histórias?



Além disso, valeria uma reflexão, uma leitura sobre a indisciplina e o comportamento daqueles que não aprendem. O que estariam tentando nos dizer?



O segundo aspecto inconciliável desta prática com a teoria sócio- interacionista seria o fato de que tanto Piaget quanto Vygotsky postularem que aprendemos com os nossos pares. Aprendemos na interação com o outro. Assim, o não saber do outro pode ser uma excelente fonte de aprendizado para mim, da mesma forma que o meu saber pode ser fonte de aprendizado para o meu par. Dessa forma, classificar os alunos por desempenho é acreditar numa escola ultrapassada que não atende aos princípios de uma educação inclusiva.



Para finalizar, não podemos esquecer de Gardner, com o conceito de INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS. Ele nos alerta que a inteligência tem múltiplas facetas, que cada um, vai desenvolver mais um aspecto da inteligência de acordo com suas características pessoais, com a sua experiência e com a cultura na qual está inserido. A escola privilegia só a inteligência lógico-matemática e a inteligência lingüística, deixando de lado todos os outros tipos de inteligência. Quem estamos nós excluindo? Quem estamos nós, formando? Graciliano Ramos era analfabeto aos 9 anos de idade. Aprendeu a ler apesar da escola. Pergunto eu: Quantos Graciliano Ramos estaremos nós excluindo?

2 comentários:

  1. Oi Leila,

    Trabalhei numa escola assim e fiz todo possível para isto acabar. É um absurdo esquematizar as crianças e fazé-las competir desde cedo. Concordo com você.

    Abraços

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  2. Olá Leila!
    Descobri seu blog porque você fará uma palestra no dia 22 no município de Cabo Frio onde trabalho também durante 30 anos. Pesquisei para saber mais a seu respeito e encontrei esta página com um assunto tão estimulante.
    Achei muito pertinente a sua colocação a respeito das diferenças. Como segregar pessoas pelo seu desempenho? Que tipo de educador contribui para este tipo de homogeneidade? Por comodidade? Aprendemos com as diferenças, na comunhão com os outros. Já pensou que monotonia teríamos se todos preferissem o amarelo? O mundo nos seduz pela complexidade dos gostos, idéias, desejos, ambições e possibilidades. A troca e a interação com os diferentes é que nos fazem crescer como seres humanos. Concordo plenamente com você!
    Um abraço,
    Adriana Lima

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