Qual a relação da escrita com o pensamento? penso eu... Mas eu não quero academizar, nem filosofar. Quero a explicação prática para a minha incapacidade de colocar no papel o turbilhão de pensamentos e emoções que me invadem.
Estou desde cedo recostada na cama, tendo levantado algumas vezes para beber água, comer, ir ao banheiro, trivialidades. Acordei cedo, levantei, tomei um bom banho de ducha bem quente, lavei o cabelo e enrolei-me num roupão atoalhado branco quentinho.... sequei-me, vesti uma roupa confortável, lavei o quintal, mudei umas plantas de lugar, desci, tomei uma xícara de café com leite, subi, sequei o cabelo e sentei-me na cama com o laptop ( laptop...agora entreguei minha idade - laptop agora é notebook!). Daí pra cá não consegui escrever nem uma linha. Estranho, porque minha cabeça fervilha. Mas não me vem uma história, um fato, o que me vem são passagens, medos, sentimentos, anseios.
Mas tudo isso tem uma história... mas de que história falamos? Pergunto-me, se quando escrevo vem-me uma história com inicio, meio e fim... não...é quase que imperceptível a ordem em que as coisas acontecem...simplesmente vou escrevendo e de repente, tem-se a história. História... o que é que uma história tem para ser contada, escrita e entendida? ... tem que ter lógica. Lógica? é, a lógica que é quase que inerente a humanidade. Digo quase, pois, graças aos céus, os avanços científicos já provaram que a lógica varia de acordo com a cultura na qual se está inserida.
A lógica que conhecemos é herdada dos gregos, retomada e perpetuada pelos filósofos do Renascimento e pela corte francesa. A lógica ordenadora e guardiã do tempo, dos espaços, do pensamento, do comportamento. Aprendemos desde cedo a pensar com lógica. Qual foi a criança que não ouviu um adulto dizer que ela não está usando ou sendo lógica?
A lógica ocidental baliza nosso mundo e quando não conseguimos arrumar nossos pensamentos dentro dessa lógica é um caos. Felizes os artistas, os poetas, os músicos. Se o são, são justamente por fugirem do lugar comum, fugirem da lógica. A arma deles chama-se criatividade, ou, se preferirem, pensamento divergente! Ah...também precisamos ser criativos... mas só depois de ter sido moldado a ferro e fogo na danada da lógica.
A lógica invade nossa intimidade. Se não arrumamos nosso armário classificando todos os nossos pertences, somos desorganizados. Já inventaram até personal home! Uma equipe de lógicas donas de casa vai até a sua casa arrumar seus armários. Prometem milagres! Quem foi que disse que há uma maneira correta de arrumar as coisas? ou que, se as cuecas ficarem todas juntas você as encontrará com mais facilidade? Por que não posso deixar as meias e as cuecas e as gravatas todas juntas? quem foi que inventou de classificar o mundo? Seres vivos e seres não vivos... tudo, tudo tem seu lugar.
Mesmo assim, não é difícil encontrar pessoas que insistem em desafiar a lógica. Sapatos na sala, meias no sofá, livros e revistas sobre a mesa de centro, copos, barbeador, um saco de biscoitos vazio no canto da sala. Nossa! você deve estar pensando... além de bagunceiro é porco! tudo porque alguém convencionou, algum dia, que existe uma maneira correta de proceder. E há ainda os excessos, claro!
Um amigo meu, chegou um dia em casa muito injuriado. Havia ido visitar uma cliente e ao chegar na casa dela recebeu pantufas. Ele olhou para as pantufas e perguntou se era um presente... - Não, não, disse a mulher, e continuou: “É para calçá-las... mas não precisa tirar os seus sapatos não...” ele não conseguiu entender o porquê dele precisar usar pantufas... existem casas que, de tão organizadas que são , parecem de brinquedo... arrumadas para parecerem bonitas... e são! segundo uma certa organização de mundo... se não cuidar, de tão arrumadas que são, ficam impessoais, frias. Pode ser a casa de qualquer um e ao mesmo tempo de ninguém.
Ao perguntarem a Piaget sobre a sua desorganização, ele responde que existe a lógica matemática e a vital, e que a dele, é a vital.... e que daria mais trabalho arrumar tudo do que procurar um papel ou um livro quando quisesse.... talvez esteja aí a resposta! o pensamento é vital...não é ordenado, tem vida própria, desejos próprios, não aceita ordens. Alguém já viu alguém dizer - eu não quero pensar nisso e o pensamento sumir?
O pensamento não é racional, não faz fila e não tem vergonha, não mente, é desobediente... lembrei-me de um filme em que o homem quase enlouquece porque passa a ouvir o pensamento das mulheres... e isso surpreende-o tanto que ele não consegue pensar em outra coisa. Há também a história de Irvin Yalom. Nela, um médico casado bem sucedido quase enlouquece por não conseguir afastar pensamentos proibidos com outra mulher... há ainda aqueles que não conseguem distinguir pensamento e realidade.
Pois é, pensamento e escrita são tão diferentes quanto a água e o vinho, mas da mesma forma que a água e o vinho se complementam, o pensamento e a escrita também. Diferentes, mas complementares.
Estou desde cedo recostada na cama, tendo levantado algumas vezes para beber água, comer, ir ao banheiro, trivialidades. Acordei cedo, levantei, tomei um bom banho de ducha bem quente, lavei o cabelo e enrolei-me num roupão atoalhado branco quentinho.... sequei-me, vesti uma roupa confortável, lavei o quintal, mudei umas plantas de lugar, desci, tomei uma xícara de café com leite, subi, sequei o cabelo e sentei-me na cama com o laptop ( laptop...agora entreguei minha idade - laptop agora é notebook!). Daí pra cá não consegui escrever nem uma linha. Estranho, porque minha cabeça fervilha. Mas não me vem uma história, um fato, o que me vem são passagens, medos, sentimentos, anseios.
Mas tudo isso tem uma história... mas de que história falamos? Pergunto-me, se quando escrevo vem-me uma história com inicio, meio e fim... não...é quase que imperceptível a ordem em que as coisas acontecem...simplesmente vou escrevendo e de repente, tem-se a história. História... o que é que uma história tem para ser contada, escrita e entendida? ... tem que ter lógica. Lógica? é, a lógica que é quase que inerente a humanidade. Digo quase, pois, graças aos céus, os avanços científicos já provaram que a lógica varia de acordo com a cultura na qual se está inserida.
A lógica que conhecemos é herdada dos gregos, retomada e perpetuada pelos filósofos do Renascimento e pela corte francesa. A lógica ordenadora e guardiã do tempo, dos espaços, do pensamento, do comportamento. Aprendemos desde cedo a pensar com lógica. Qual foi a criança que não ouviu um adulto dizer que ela não está usando ou sendo lógica?
A lógica ocidental baliza nosso mundo e quando não conseguimos arrumar nossos pensamentos dentro dessa lógica é um caos. Felizes os artistas, os poetas, os músicos. Se o são, são justamente por fugirem do lugar comum, fugirem da lógica. A arma deles chama-se criatividade, ou, se preferirem, pensamento divergente! Ah...também precisamos ser criativos... mas só depois de ter sido moldado a ferro e fogo na danada da lógica.
A lógica invade nossa intimidade. Se não arrumamos nosso armário classificando todos os nossos pertences, somos desorganizados. Já inventaram até personal home! Uma equipe de lógicas donas de casa vai até a sua casa arrumar seus armários. Prometem milagres! Quem foi que disse que há uma maneira correta de arrumar as coisas? ou que, se as cuecas ficarem todas juntas você as encontrará com mais facilidade? Por que não posso deixar as meias e as cuecas e as gravatas todas juntas? quem foi que inventou de classificar o mundo? Seres vivos e seres não vivos... tudo, tudo tem seu lugar.
Mesmo assim, não é difícil encontrar pessoas que insistem em desafiar a lógica. Sapatos na sala, meias no sofá, livros e revistas sobre a mesa de centro, copos, barbeador, um saco de biscoitos vazio no canto da sala. Nossa! você deve estar pensando... além de bagunceiro é porco! tudo porque alguém convencionou, algum dia, que existe uma maneira correta de proceder. E há ainda os excessos, claro!
Um amigo meu, chegou um dia em casa muito injuriado. Havia ido visitar uma cliente e ao chegar na casa dela recebeu pantufas. Ele olhou para as pantufas e perguntou se era um presente... - Não, não, disse a mulher, e continuou: “É para calçá-las... mas não precisa tirar os seus sapatos não...” ele não conseguiu entender o porquê dele precisar usar pantufas... existem casas que, de tão organizadas que são , parecem de brinquedo... arrumadas para parecerem bonitas... e são! segundo uma certa organização de mundo... se não cuidar, de tão arrumadas que são, ficam impessoais, frias. Pode ser a casa de qualquer um e ao mesmo tempo de ninguém.
Ao perguntarem a Piaget sobre a sua desorganização, ele responde que existe a lógica matemática e a vital, e que a dele, é a vital.... e que daria mais trabalho arrumar tudo do que procurar um papel ou um livro quando quisesse.... talvez esteja aí a resposta! o pensamento é vital...não é ordenado, tem vida própria, desejos próprios, não aceita ordens. Alguém já viu alguém dizer - eu não quero pensar nisso e o pensamento sumir?
O pensamento não é racional, não faz fila e não tem vergonha, não mente, é desobediente... lembrei-me de um filme em que o homem quase enlouquece porque passa a ouvir o pensamento das mulheres... e isso surpreende-o tanto que ele não consegue pensar em outra coisa. Há também a história de Irvin Yalom. Nela, um médico casado bem sucedido quase enlouquece por não conseguir afastar pensamentos proibidos com outra mulher... há ainda aqueles que não conseguem distinguir pensamento e realidade.
Pois é, pensamento e escrita são tão diferentes quanto a água e o vinho, mas da mesma forma que a água e o vinho se complementam, o pensamento e a escrita também. Diferentes, mas complementares.
Realmente, se pudéssemos coordenar pensamentos, emoções e experiência com a escrita de forma imediata, seria excepcional. E a lógica, essa "tal de" lógica que nos é imposta desde o nascimento até o último suspiro , ela nos cansa e muitas vezes nos irrita; principalmente na hora de escrever! Como é dificil juntar tudo usando a bendita "lógica". Mas acredito que, por tudo isso é que pode-se considerar o ato de escrever uma arte.
ResponderExcluirMuito bom Leila. Amei este texto.