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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Professora, Mestre em Educação, Psicopedagoga, Especialista em Avaliação Educacional. Atualmente, ministra palestras sobre LEITURA E INTELIGÊNCIA, também escreve material de língua portuguesa EAD para o CCAA e para a EDUCOPÉDIA.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

INCLUSAO


Arnaldo foi meu aluno na Faculdade Simonsen। Ele me escreve :


“(...)Tenho uma grande amiga que é cadeirante e vivo e vejo a dificuldade que é para ela sobreviver sem ter conforto e oportunidade alguma। Sendo para ela um pouco ''mais fácil'' ,devido a conviver com isso desde que nasceu, mas e para quem está nessa situação depois de ''velho''? Gostaria que a senhora lesse, pesquisasse e divulgasse alguma coisa sobre o tema para os alunos. Pois recebo seus emails e sempre tem alguma informação sobre cursos, etc...é nosso dever fazer alguma coisa por nosso semelhante,ter plantado algo na nossa passagem pela Terra. E admiro muito sua visão (lembro-me das aulas) super importante pra quem está engatinhando na vida e precisa de uma luz. Creio que muitos de seus antigos alunos sentem falta das aulas (mesmo que eu não goste da parte pedagógica)sei que eram importantes.(...) ''A propósito, gostei muito do blog e dos artigos da revista....( escreves superbem)”


...e me solicita que eu leia, pesquise e divulgue alguma coisa sobre o tema: pessoas portadoras de necessidades específicas. Para ser sincera, para escrever com propriedade sobre o tema teria que pesquisar muito. É um tema complexo com muitas áreas diversificadas: surdos, cegos, incapacidade para andar, incapacidade de locomoção, deficiência física ou mental. Cada uma dessas áreas com orientações educacionais e necessidades específicas. Sem falar que poderia falar das leis que garantem alguns direitos aos portadores de necessidades específicas, poderia falar das dificuldades de acesso à escolarização ou dificuldade de continuar os estudos, ou ainda das dificuldades de socialização, entre outros.Daria uma tese de Doutorado!
Assim, convido meus colegas “blogueiros” a enfocar o assunto, cada um a partir de sua experiência e formação, de forma que possamos dar nossa contribuição sobre o tema, e opto por discorrer sobre inclusão de modo geral. Inclusão das minorias étnicas, das classes menos favorecidas, das pessoas portadoras de necessidades específicas.
A primeira questão que me vem a mente ao falar de inclusão é a questão das diferenças. O tema da inclusão só existe porque existe a diferença. Diferença que dificulta o acesso aos bens sociais.
Assim, o problema que se impõe é o problema o acesso da população aos bens comuns, na medida em que a sociedade atual, apesar de não ser dividida em estamentos, como na Idade Média, é também estratificada, mas com base em valores adquiridos como educação e riqueza.
Embora se possa "enricar" de uma hora para outra, ao receber uma herança, ao se ganhar um jogo, conseguir uma vaga em um time de futebol, ou ser modelo de uma grife famosa, a maioria dos mortais precisa mesmo é trabalhar duro 365 dias por ano para garantir o seu sustento. Com o mercado de trabalho restritivo e exigente de pessoas que possuam algum tipo de mão de obra especializada, o papel das instituições educativas torna-se de vital importância para se garantir a igualdade de oportunidades a todos e consequentemente a oportunidade de todos ascenderem socialmente na pirâmide social.
No entanto, sem se considerar as diferenças, não há como garantir uma política de igualdade. Amartya Sen, um indiano que ganhou o prêmio Nobel de Economia em 1998, fala em equidade, ou seja, garantir a igualdade considerando-se as diferenças.
Uma das maneiras de se garantir a equidade às pessoas surdas seria possibilitar-lhes o acesso a uma educação bilíngüe, em todos os níveis, de forma que pudesse ter acesso a uma língua desde cedo, facilitando sua inclusão na sociedade. Da mesma forma, garantir equidade aos cadeirantes implicaria em oferecer espaços adequados para sua locomoção, além dos instrumentos necessários para sua deficiência. Poderíamos ainda citar os idosos que possuem alguma doença em comparação com idosos que gozam de uma saúde perfeita. Os idosos que precisam medicar-se constantemente gastam quase toda, senão toda a aposentadoria com remédios. Garantir a equidade, seria oferecer gratuitamente esses remédios.
Nesta altura você já deve ter percebido que o governo já tem empreendido algumas ações no sentido de promover a equidade. A política de farmácia popular, a lei que incide sobre a arquitetura de acesso aos espaços públicos, a lei de cotas, entre outras, são tentativas de se garantir a equidade.
No entanto, o Brasil é um país muito grande e as dificuldades se acentuam dependendo da região onde se mora. Se você mora na Zona Sul do Rio de Janeiro provavelmente terá maiores condições de usufruir dos benefícios das leis do que se você mora na Zona Oeste da mesma cidade. Mas se você mora no interior do estado, provavelmente suas dificuldades serão ainda maiores.
Não são só as dificuldades de acesso aos bens sociais, falo das dificuldades impostas pela própria sociedade. Dos preconceitos.
Creio que o maior obstáculo à inclusão das pessoas portadoras de necessidades específicas ainda é realmente de ordem social. Ao preconceito, alimentado por muitos anos, ao longo da história, sobre a “incapacidade” das pessoas surdas, cegas, cadeirantes e deficientes físicos e mentais. Durante muito tempo a sociedade não se perguntou o que eles podiam fazer, desconsiderando mesmo seus direitos fundamentais como pessoa. Preferiram ignorá-los, afastá-los da convivência da sociedade.
Assim, a luta pela inclusão é uma luta que deve ser travada em todos os espaços, principalmente nos espaços escolares, ensinando nossos alunos a conviverem com a diferença, seja ela de que ordem for: etnia, credo, classe,... (Parece que a sociedade ainda não conseguiu descobrir como ser tolerante, visto os conflitos recentes no Oriente Médio e frequentemente, no mundo).
Precisamos ser mais tolerantes, e ser tolerante não significa apenas considerar que o outro existe. Ser tolerante implica em aceitar o outro e seu conhecimento como legítimo.
Assim, não posso deixar de falar da inclusão dos alunos das classes populares que acabam sendo banidos da escola por um sistema cruel, ainda eurocêntrico, que desconsidera, ignora que essas crianças tragam um saber legítimo e possuam modos diferentes de pensar, agir e fazer. Nós, professores precisamos trazer conosco um espírito de pesquisador. Temos que defender nosso saber sim, valorizar a cultura acadêmica, mas precisamos reconhecer que a cultura acadêmica não tem a cara do Brasil. Precisamos promover a interação, precisamos cair em Zona de Desenvolvimento Proximal, como diz Vygosky, e promover a interação. Valorizamos a cultura brasileira em tantas áreas, e há trabalhos excelentes promovidos por professores empenhados na inclusão e na valorização do saber popular...
Dessa forma é fundamental garantirmos a igualdade de oportunidades à todas às crianças ( negras, brancas, indígenas, pobres, ricas, portadoras de necessidades específicas, ...) de ter acesso a uma escolarização de boa qualidade de forma que se possa oferecer não só a possibilidade de um exercício mais consciente de cidadania com uma competição mais justa de acesso ao mercado de trabalho, garantindo assim, o artigo constitucional de igualdade.
Creio Arnaldo, que a nossa luta deve ser sempre no sentido de promover a justiça nos espaços que atuamos, ensinar a tolerância, começando por nós em nossas casas। Fazendo a diferença nos círculos que frequentamos, como você está fazendo!


Um abraço,


Leila Mendes

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