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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Professora, Mestre em Educação, Psicopedagoga, Especialista em Avaliação Educacional. Atualmente, ministra palestras sobre LEITURA E INTELIGÊNCIA, também escreve material de língua portuguesa EAD para o CCAA e para a EDUCOPÉDIA.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

NO CONSULTÓRIO


- Dotô... Ando me sentindo muito mal... meu corpo está cada vez mais seco, minha respiração é deficiente, sinto-me intoxicado... e minha temperatura oscila...uma hora parece que estão me queimando, depois sinto muito, muito frio, meus pelos já quase não existem e já passei por tantas plásticas que já nem me lembro mais como eu era...
- Mas Senhor, quando começou tudo isso? Pergunta o médico olhando por cima dos óculos rapidamente e retomando suas anotações...
- Não sei precisar não,... as coisas foram acontecendo... eu tinha água em abundância. Eram limpas e fresquinhas. Refrigeravam o meu corpo e eu sentia-me revigorado no dia seguinte... meus pelos também contribuíam bastante. Verdinhos, úmidos e espessos! Ah, como era bom!
- Vamos por partescom calma, senhor... o senhor precisa me contar tudo direitinho para que eu possa orientá-lo da melhor forma. O que aconteceu com os seus pelos. Como começaram a se tornar escassos?
- Ah, me pediram para raspar os pelos e no lugar deles mudar minha aparência. Prometeram-me que ficaria mais bonito... eu era verdinho. Verde claro, verde escuro, esverdeado, verde-avermelhado, verde-amarelado. É certo que, de quando em vez, os pelos de uma parte do corpo caíam, amarelavam, mas nasciam de novo... bem, ,mas aí eu cometi meu grande pecado. A vaidade. Acreditei que ficaria mais bonito... e até que fiquei... tenho motivo para orgulho. Vê aqui, dotô... bem aqui ( fala apontando para uma região ao sul de seu corpo. Aqui está uma das obras mais bonitas que fizeram...eu o chamo de “Cristo Redentor”. Mas há outras, dotô....(nesse momento esquece-se de sua doença e entusiasma-se ao mostrar o que para ele, é motivo de orgulho) O Sr. quer ver? Essa aqui, indo pra leste e subindo... a Torre de Eiffel... do outro lado do meu corpo, mais ou menos na mesma altura, a Estátua da Liberdade. Eeu poderia ficar a tarde toda aqui, dotô... aliás, teria que passar muito tempo mais... esse é um dos problemas. Não acho mais o que eu desejo no meu corpo... há tantas modificações... umas, motivo de orgulho, como lhe falei; outras, motivo de tristeza; e outras dotô, grandes feridas... incrustadas na minha memória, na minha história ...
Nesse momento, lágrimas insistem em rolar,rolar, formando uma pequena queda d’água, a contragosto do paciente, que se refaz rapidamente e continua:
- Por vezes, essas lembranças provocam grandes pesadelos que me sacodem todo e terminam por provocar mais desastres, mais misériaa. Todas essas modificações contribuíram também para que eu já não encontreo minhas veias, meu pelos, meu ar... (enquanto fala, vai se encolhendo na cadeira, murchando, murchando... parece secar.
- É grave, dotô?
Ar circunspecto, sobrancelhas levantadas, o médico anda até sua mesa, senta-se, aproxima a cadeira da mesa, apóia a cabeça em uma das mãos com dedo em riste no nariz e, enfim, se pronuncia:
- Senhor... preste atenção. Gostaria muito de ajudá-lo... seu problema vem todos de um só mal. O Sr. Está está desequilibrado. Essas modificações colocaram o seu corpo em desequilíbrio. Veja bem: nos seus pelos viviam algumas espécies de animais. Todas essas espécies eram importantes para o seu equilíbrio. Esses animais entraram em luta e venceu a espécie mais forte. Esses animais foram destruindo os outros animais e se multiplicando. Hoje você tem uma superpopulação que vive em desequilíbrio, sugando sua água, seus escassos pelos, seu ar, suas defesas... além disso, essa espécie inspira cuidados. Eles não medem esforços para ganhar uma espécie de papel. Tudo nessa sociedadezinha funciona para se ganhar papel. Assim, raspam seu pelos, matam os outros animais, entopem suas veias para retirada de matéria prima pararetirar pedaços de seu corpo para poder colocá-lo em outras construções, incrementam as indústrias em troco de mais papel que terminam por deixá-lo intoxicado e sem ar...Seu problema é grave...
- Mas dotô, e aí? O que posso fazer?
- Escute meu filho... vou medicá-lo... Você vai seguir minhas orientações por dez dias. Se isso não resolver, volte aqui e veremos o que ainda pode ser feito.
Primeiro dia: Preste atenção: junte todas as usas suas forças e sopre, sopre, sopre bem forte em toda sua parte líquida... isso ajudará a fazer uma limpeza em suas veias, seu corpo e a renovar seu ar...
- Mas dotô... e o que acontecerá com meu corpo? Ficará desconfigurado,... minhas obras....
- Escute... no segundo e terceiro dias, depois solte todos os gazes que tiver dentro de você.
- Mas dotô... isso abrirá feridas em minha pele não sem antes causar destruições e mortes.
- Por último, nos últimos sete dias, sacuda o seu corpo três vezes ao dia., durante uma semana.
- Mas dotô isso não será o fim??!?! Rio, 08/07/2008

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