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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Professora, Mestre em Educação, Psicopedagoga, Especialista em Avaliação Educacional. Atualmente, ministra palestras sobre LEITURA E INTELIGÊNCIA, também escreve material de língua portuguesa EAD para o CCAA e para a EDUCOPÉDIA.

sábado, 16 de maio de 2009





A arte de ensinar, Jay Parini, Record, 2007, 189p.

Por Leila Mendes

Jay Parini é professor e escritor. Norte-americano, nasceu em Scranton, na Pensilvânia. Após uma passagem de sete anos por Dartmouth, ele se estabeleceu como professor de Língua Inglesa no Middlebury College, em Vermont, Estados Unidos, vindo a escrever cinco livros de poesia, seis romances e três biografias.

A primeira vista pode-se pensar, pelo título, que Parini refere-se à arte enquanto àquilo que se diferencia do comum, como dom ou habilidade, mas ao se iniciar a leitura, percebe-se que o autor usa a palavra “arte” com o significado de ofício, profissão, conjunto de prescrições de um ofício ou profissão. Assim, o autor refere-se ao ofício de ensinar. No entanto, não há como descartar que ele tenha ignorado o duplo sentido da palavra e mesmo usado intencionalmente. Pelo contrário, talvez a palavra arte expresse de forma magnífica as diferentes nuanças do ofício de ensinar.
Ao longo da obra, o que Parini nos proporciona é uma reflexão sobre a educação do ponto de vista de um professor. Fazendo uso de uma linguagem coloquial, num estilo romanceado e sob uma perspectiva autobiográfica, Parini, discorre sobre aspectos fundamentais de sua vida, e ao fazer isso, divide, compartilha com o leitor experiências que vivenciou tanto como aluno, quanto como professor. O ofício do magistério, diferente de outros, permite essa experiência dialética. Todo professor foi, um dia, aluno. Assim, ele passeia pelas escolas que frequentou, relembra os professores que teve e que lhes serviram de modelo e as leituras realizadas. Como mestre, opta por fazer algumas sugestões para os iniciantes.
Fica difícil para quem escolheu a carreira do magistério, não se identificar com o autor, obrigando-se a uma co-reflexão simultânea à leitura: autor e leitor fundem-se em um só. A leitura permite que os sentimentos floresçam, borbotem das páginas como em cascatas.
Num dos trechos mais belos, Parini compara o calendário acadêmico às estações do ano. De um lado àquilo que se repete incondicionalmente, e de outro o eterno recomeçar! Não há melhor definição para o trabalho que desenvolvemos na escola! Hanna Arendt nos diz que a educação está inevitavelmente ligada ao passado. Ela tem razão. Uma parte de nosso ofício consiste na perpetuação de nossa cultura. Também segundo Durkheim, a função primeira da escola é inculcar, nos mais novos, os modos de falar, agir e pensar estabelecidos pelos mais velhos. É inevitável negarmos o peso da cultura nas nossas ações mais banais. Por outro lado, como cita o autor, segundo Paulo Freire, “pensar a história como possibilidade é o mesmo que reconhecer a educação como possibilidade.” Desta forma, também temos um compromisso com o futuro. Falamos da função reprodutora e transformadora da educação!
Parini passa a limpo nossas vidas. Relata os modelos e estilos dos professores que teve e de que forma eles influenciaram na sua escolha de um “estilo de ensinar”; denuncia o antieducacional sistema de notas dos Estados Unidos; comenta sobre o papel exercido pela família no desempenho escolar; relembra a descoberta da leitura quando ainda novo e a aprendizagem com os autores que conhecera.
Depois, enquanto professor discorre sobre a angústia vivida por pensar em não estar fazendo o melhor; sobre o sentimento de incapacidade que muitas vezes o invadia; sobre a perplexidade frente à turma; e sobre a inevitável pergunta: o que estou fazendo aqui? Não foram poucas as noites em que dormia mal, preocupado, até entender que o professor é, no fundo, um aluno perpétuo. “O processo de tornar-se um professor eficaz é todo feito de tentativa e erro, e é muitas vezes bastante penoso e exaustivo.”
Também a dificuldade encontrada à adequação à competitiva estrutura acadêmica, a percepção da instabilidade dos padrões de excelência acadêmicos, a pressão por publicação a que são submetidos os professores expresso pela máxima: “Publique ou morra!” é angustiante.
Já mais maduro, Parini permite-se algumas constatações: a certeza da importância da leitura em voz alta para a formação do leitor, a consciência de que o professor é àquele que dá passagem ao conteúdo, e a escolha de uma persona, de uma máscara e de um estilo pessoal de se vestir, também são vozes que falam aos alunos, não se trata de ensinar algo, mas de “se ensinar”. “A noção do ‘verdadeiro’ eu é romântica e falsa”, afirma ele. O que fica, longe de ser o conteúdo, é um modo de ser no mundo, de encarar a vida. À primeira vista pode parecer contraditório, mas não o é. Os alunos querem sentir confiança e só se consegue isso com alguma segurança, e seguro pode-se assumir um estilo, um jeito de ser.
Assim, o autor relata-nos sua passagem por alguns estilos escolhidos com base em professores que tivera. Os modos de falar, as roupas que usavam que, de certa forma diziam a ideologia a que pertenciam, os modos de agir, as mudanças nos tons, freqüência e altura da voz, as piadas utilizadas para assegurar-se da atenção dos alunos.
Parini lembra-nos também que os alunos tendem a atender às expectativas dos professores e que desta forma, passando por uma fase experimental, estão a procura de uma ideologia, e o processo de identificação com um ou outro professor é inevitável.
Também declara que a experiência de escrever é mais bem sucedida quando está em período de aula: “Ensinar organiza minha vida, dá estrutura à minha semana, põe diante de mim certos objetivos...”, no entanto, adiante, o autor diz desperdiçar grande parte do tempo, mas não se importa visto que a preguiça é essencial para a criatividade.
Sem dúvida, uma obra para ser lida pelos professores mais novos, de modo que possam imaginar o que está por vir, e pelos mais velhos, que se identificam aqui e ali com o autor por já terem vivido situações semelhantes.

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