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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Professora, Mestre em Educação, Psicopedagoga, Especialista em Avaliação Educacional. Atualmente, ministra palestras sobre LEITURA E INTELIGÊNCIA, também escreve material de língua portuguesa EAD para o CCAA e para a EDUCOPÉDIA.

domingo, 12 de abril de 2009

O clarinete de Mr. Acker Bilk em “Stranger on the Shore”



Recebi um e-mail com os dizeres: “Clicando no botão no centro da tela, as músicas são tocadas de forma aleatória.” Ao que se podia ler:
ANOS 50-54
ANOS 55-59
ANOS 60-64
ANOS 65-69
ANOS 70-74
ANOS 75-79
ANOS 80-84
ANOS 85-89
Antigamente recebíamos cartas. No máximo telegramas que eventualmente poderiam tirar nosso sono. Depois veio a TV e o telefone. Com a TV podíamos saber sobre o mundo no horário dos noticiários. Uma grande invenção, sem dúvida, mas estávamos fadados à programação das emissoras que, na época, eram poucas. Já com o telefone, poderíamos ser acordados no meio da noite com um sonoro Trimmmmmmmm, mas não era uma coisa que acontecesse todo dia. Era uma eventualidade. Geralmente, em casos de acidentes ou, morte. Durante o dia, lembro-me adolescente, aguardando que o telefone tocasse! Era uma grande invenção e cara para as nossas posses naquela época.


Com a chegada da internet, as possibilidades de interação aumentaram assustadoramente. É possível interagirmos com pessoas do mundo inteiro: amigas, conhecidas, desconhecidas, a qualquer hora do dia ou da noite. Posso acordar às três da manhã, abrir meu e-mail e ser surpreendida por uma ou mais mensagens. Podemos nos alegrar, entristecer, ficar indignados, com raiva. Basta, para isso, abrir nosso programa de e-mail. Além disso, como se não bastassem as palavras à serem lidas, enviam-nos arquivos: de textos, de imagens, de sons. Contos, poesias, textos, ensaios, artigos, filmes, piadas, shows, comédias, músicas. Uma festa! Um desfile a nossa frente, ali na tela, de todos os gêneros de textos, músicas, filmes.
Deparamo-nos com mensagens maravilhosas, outras nem tanto. Matamos saudades, lembramos de bons momentos e de maus também, reencontramos pessoas queridas... e o melhor, quando alguma coisa não nos agrada, deletamos. Basta apertar uma tecla: “delete” que a mensagem, foto, som, tudo apagar-se-á em instantes.


Mas o que efetivamente me encantou nessa mensagem foi a possibilidade de viagem à minha infância. Cliquei no botão no centro da tela, tendo o cuidado de escolher a faixa entre os anos sessenta e sessenta e quatro. A música levou-me para longe. É como se eu tivesse entrado numa máquina do tempo e tivesse sido transportada para o início da década de 60: “Stranger on the Shore” de Mr. Acker Bilk. Acho que, depois que cresci, nunca mais ouvi essa música e, de repente, aquela canção me invade. Sai do computador e me provoca profunda emoção. A melodia que Acker Bilk tira do clarinete é uma melodia pura, cadenciada, que vai chegando devagar até tomar conta de mim inteiramente. Tenho a impressão de que nunca, nunca me esqueci dessa música. Ela apenas estava adormecida em mim.


Não foi difícil me ver ali novamente embaixo da mesa de nossa sala, envergonhada de minhas emoções, chorando. Sem saber por que motivo chorava ou estava emocionada, simplesmente me escondia com medo de uma possível bronca. Ali, embaixo daquela mesa pesada, coberta por uma toalha comprida, era o meu esconderijo mais seguro. Toda vez que a mãe resolvia escutar seus discos de valsa, música clássica ou instrumental, era pra lá que eu corria com os olhos cheios de lágrimas e ficava encolhidinha, segurando o choro, até que a emoção se abrandasse.


Nunca entendi o poder que aquelas músicas exerciam sobre mim. Eu era tão pequena... tinha quatro, cinco anos, e a música me tocava profundamente... Mexia com a minha emoção. Nunca perguntei à ninguém sobre isso... Por que eu chorava? E por que, ainda hoje me emociono com músicas? É sabido que a música nos emociona. Mas não são todas as músicas que me tocam profundamente. Algumas em particular me fazem chorar até hoje... mas não é um choro de tristeza. É um choro de emoção.


Se acreditasse em vidas passadas, diria que em alguma vida, a música me marcou. Mas há também a possibilidade de minha memória ter me pregado uma peça... nossa memória adora brincar conosco e aliada ao nosso inconsciente, reelabora nossas lembranças de forma a resolver algumas pendências. Engana-se quem pensa que a memória nos é fiel. Triste ilusão. Mas isso já é outra história!


Quer conhecer Mr. Acker Bilk? Acesse: http://www.youtube.com/watch?v=Q7jZeXvpyZQ !

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